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Foto do escritorLarissa Oliveira

quem são as mulheres da geração beat? parte 3


Hettie Jones,nascida como Hettie Cohen, escritora e editora que lutou por causas raciais e étnicas em seus escritos

ESTADO SIGNIFICADO
para mim a poesia é professora, curadora e disciplinadora.
poesia é o mensageiro da linguagem, o afinador que vibra o acorde de comunicação.
este é o meu caminho escolhido e atribuição
Ruth Weiss

Nesta última parte da introdução às mulheres da geração beat, falarei sobre três autoras que assim como as outras citadas nos posts anteriores, merecem reconhecimento não somente porque são mulheres artistas, mas também porque seus temas e seus estilos são demarcados por uma autenticidade que confronta o estreito espaço que lhes é reservado. Hettie Jones enfrentou um árduo caminho até se tornar uma autora independente. Judia e casada com um afro-americano, o poeta Beat Leroi Jones, ela encontrou vários obstáculos na sua vida pessoal e profissional. Hettie se tornou amiga dos beats quando se mudou para Greenwich Village, e através da revista Yugen Beat Journal, buscou publicá-los. Apesar disso, seu nome era ocultado diante dos grandes nomes masculinos presentes nas edições.O casamento e os filhos geraram uma série de discriminações na década de 60, partindo tanto de ordem familiar quanto política. Dentro do seu casamento, Hettie enfrentou de cabeça erguida, o posicionamento de Leroi contra os brancos, no auge dos movimentos pelos direitos civis.Além disso, os filhos e a agenda engajada de Leroi, impossibilitavam Hettie de ter tempo para buscar a sua própria carreira como escritora.A posição radical de seu marido levou ao fim da união, porém, isso nunca impediu Hettie de escrever sobre questões raciais. Por conta da sua experiência pessoal e empatia, ela trouxe à tona o seu ponto de vista como mulher branca, judia, mãe de filhos afro-americanos e como a chefe de família enquanto seu marido podia desfrutar da vida boêmia. Em suas memórias, ela relembra cozinhar para os beats em sua casa, enquanto seu marido era quem saboreava da vida pública.Alguns de seus poemas retratam  histórias reais de mulheres audaciosas de diferentes etnias-- funcionando como poemas narrativos e íntimos-- que lutaram por sua liberdade. Recentemente, me deparei com uma tese de mestrado defendida pela professora Halessa Regis, que traz uma profunda análise sobre a vida e obra de Hettie Jones. Regis termina seu texto falando sobre a importância de destacar as estradas que as mulheres têm percorrido para alcançarem a representatividade. Por meio das obras de Hettie, é possível extrair sua posição multifacetada em relação às causas das minorias. O resgate de seus escritos se faz importante no contexto atual por conta de possíveis transformações políticas que buscam dificultar ainda mais a humanização de narrativas marginalizadas na História.



ruth weiss, considerada a "matriarca", a "deusa" da geração beat

Assim como Hettie Jones, a poeta de origem alemã e com raízes em outras nacionalidades, ruth weiss, assumia diferentes identidades e publicou escritores beats ao lado de um homem negro. O poeta Bob Kaufman e weiss editavam a legendária revista literária Beatitude. Na década de 60, ruth optou por não ter seu nome em letras maiúsculas como protesto contra a lei e a ordem na Alemanha, uma vez que no país, todos os substantivos são escritos em letras maiúsculas. Ela também tinha cidadania austríaca e norte-americana, fugindo para diferentes lugares com a sua família durante a Segunda Guerra Mundial. Quando mudaram-se para a comunidade artística Art Circle em Chicago, ruth se envolveu com a música Bebop e durante uma noite, enquanto o som fervia no andar de baixo e ela tentava escrever seus poemas, uma pessoa próxima a aconselhou a ler seus poemas em meio à batida do jazz,e ela o fez. A partir desse momento, ruth aprofundou sua carreira como poeta. Em meados da década seguinte, ruth conheceria Jack Kerouac enquanto moradora do hotel Wentley, em São Francisco e logo se tornariam parceiros literários. ruth comentou que rotineiramente Jack aparecia em sua casa à noite, com uma garrafa de vinho na mão e exercendo sua prática poética de esboçar palavras, de acordo com o momento, como pintores fazem. O par recitava poemas haiku, e Jack afirmava que ela era muito melhor nisso do que ele-- a técnica haiku de enxugar os poemas seria muito utilizada por weiss .A farra ainda continuava ao amanhecer quando Neal Cassady batia à porta de ruth, acordando os dois para uma aventura pelas ruas de Portrero Hill. Nunca conheceu William Burroughs, mas admirava a maneira que ele vomitava a sua escrita. Por outro lado, ela carrega uma mágoa por Ginsberg ,pois, em 1966, durante uma exibição sobre a geração beat no museu Whitney, ele a impediu de ler seus poemas. Apesar disso, seu poema transformado em filme dirigido por ela mesma, THE BRINK, algo como A BEIRA, foi exibido ,pois, ela tinha sido convidada como curadora do evento. Talvez a treta entre os dois tenha se iniciado quando Neal Cassady inventou o rumor de que tinha feito orgia com ela e Peter Orlovsky, eterno companheiro de Ginsberg. Em meio a incertezas, é melhor confirmar a proeza da escritora que já colocava no papel suas ideias desde a infância. DIÁRIOS NO DESERTO é sem dúvida, seu trabalho mais reconhecido, no qual relata  a travessia de uma personagem no deserto em meio a tormentos e descobertas. A experimentação com a linguagem a conectaria com os membros do movimento beat, no entanto, a própria ruth weiss afirmaria que ela já estava lá, produzindo e envolvida intimamente com jazz em forma de literatura bem antes do boom dos beats. Recentemente, ela foi homenageada em um evento no museu beat, celebrando os seus 90 anos e a produção de um documentário chamado ruth weiss: a deusa beat, dirigido por Melody C. Miller e com estreia prevista para o ano que vem.


Joanne Kyger, a mulher que dialogou com diversos movimentos literários,explorando a expansão da consciência fomentada pelo budismo

A poeta multifacetada ,Joanne Kyger, nasceu na Califórnia e assim como ruth weiss, já tinha escrito seu primeiro texto literário aos 5 anos de idade.Quando tinha 22 anos, Joanne se mudou para São Francisco e encantou-se com as diferentes cenas literárias eclodindo por onde passava-- era o ano do caso judicial do poema Uivo de Ginsberg. Visitou a "livraria dos beats", a mais antiga da cidade, a City Light, fundada pelo poeta Ferlinghetti. A boêmia de North Beach, os poetas da costa oeste e outras vibrantes cenas criativas moldaram sua inspiração poética. No início da década de 60,ela viajaria ao lado de Ginsberg e Orlovsky, viciados em morfina na época, para Índia, a fim de conhecer Dalai Lama. Casada com o guru imortalizado por Kerouac na obra Vagabundos Iluminados, Gary Snyder, ela descreve o encontro como uma tentativa de Ginsberg de reafirmar sua autoridade budista enquanto com Snyder, Lama conversava de guru para guru. Sua experiência na Índia foi delineada nos Diários Japoneses e Indianos 1960-1964. Anne Waldman classificaria a obra como um surpreendente trato feminista da década de 60, uma vez que temos a perspectiva feminina em um meio dominado por homens. Os poemas de Joanne têm forma de zigue-zague e seus temas preferidos são as paisagens inebriantes da Califórnia, tema inclusive o do seu mais famoso poema ,Setembro, memórias de pessoas reais, lugares, memórias, diálogos, ou seja, quanto mais ordinário, mais extraordinário seus poemas se tornaram a partir dos ricos laços pelos quais ela interligou narrativas de diferentes lugares e de diferentes pessoas e cenas.


Fontes:






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